Elas se relacionam a fatos históricos, mas são cheias de heróis fantásticos e acontecimentos sobrenaturais. Durante séculos foram transmitidas oralmente de geração para geração. Apesar de estarem associadas a uma determinada região ou a uma personalidade histórica, muitas delas viajam o mundo sendo contadas por diferentes culturas. Assim são as lendas. Narrativas populares que existem desde os primórdios da humanidade e que continuam a nos encantar.
Provavelmente tudo começou pouco antes da existência da Babilônia. Há cerca de quatro mil anos, contava-se por lá a história de um heróico rei sumério. Seu nome era Gilgamesh e ele tinha sido o quinto rei da cidade-estado de Uruk, localizada na Mesopotâmia, região onde hoje é o Iraque. A lenda sobre ele narra a odisséia de um rei que não queria morrer.
Filho da deusa Ninsum, ele seria parte divino e parte humano. Guerreiro detentor de uma força espetacular, Gilgamesh teria reinado numa época logo após o Dilúvio, quando enfrentou e venceu várias criaturas e armadilhas criadas por homens e deuses. Em sua jornada buscou aprender a como escapar da morte. A saga de Gilgamesh é considerada por historiadores a mais antiga lenda contada pela humanidade. Ela teria influenciado desde o Antigo Testamento até obras como “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien.
Na narrativa sobre Gilgamesh já é possível identificar que uma lenda mistura elementos de mitologia, religião e folclore. De qualquer forma, a rigor ela sempre tem alguma base histórica, ainda que os fatos reais sejam transformados em acontecimentos fantásticos pela imaginação popular.
Mas as lendas não fazem parte apenas de um tempo em que deuses, demônios e outras forças sobrenaturais assombravam os homens. Mesmo nos dias atuais, na era do conhecimento, quando a ciência se sobrepõe a superstições, novas lendas continuam a ser criadas pela cultura popular. As versões modernas dessas narrativas são conhecidas como lendas urbanas.
Seja tradicional ou contemporânea, o que tem feito uma lenda se tornar popular e universal é a sua capacidade de, ao misturar fatos ou personagens históricos com elementos mágicos numa narrativa fantástica, interpretar os mais essenciais valores e sentimentos humanos.
Para exemplificarmos isso, selecionamos algumas lendas que consideramos entre as melhores de todos os tempos
Ilíada
A “Ilíada” narra os acontecimentos envolvendo as disputas entre gregos (aqueus), troianos e deuses em torno da conquista de Tróia, fato que teria ocorrido por volta do ano 1.200 antes de Cristo. O texto escrito provavelmente quatro séculos depois é atribuído a Homero, que pode ser o autor também da “Odisséia”, outra importante narrativa épica. Em quase16 mil versos divididos em 24 cantos, a “Ilíada” mostra a fase final das batalhas entre gregos e troianos, num conflito em que os deuses do Olimpo tomaram partido e se envolveram nas disputas.
No centro da trama está a cólera de Aquiles, um invencível herói grego, filho da deusa Tétis, dotado de força e valentia sobre-humanas, mas que não é imortal. Sua ira inicial é contra Agamenon, líder do exército grego, que lhe roubou Briseida, integrante da realeza de Tróia capturada pelos gregos e pela qual Aquiles se apaixonou. Após essa afronta, ele e seus lendários soldados mirmidões se retiram do combate contra os troianos. A saída de Aquiles marca o início das vitórias dos exércitos de Tróia, liderados pelo príncipe Heitor, irmão de Páris que ao fugir com Helena, esposa do rei grego Menelau, iniciou a guerra entre os dois povos.
Mas a cólera de Aquiles se voltaria novamente contra os troianos após eles matarem Pátroclo, seu melhor amigo. A fúria de Aquiles principalmente contra Heitor levará os gregos à vitória. Mas o orgulho e a falta de piedade de Aquiles serão postos à prova no final, num processo que mostrou a humanização do até então invencível herói grego.
A “Ilíada” foi reconhecida como a narrativa da primeira grande aventura dos gregos como um povo unido, além de mostrar a primeira vitória da civilização “européia”. Os valores envolvidos na guerra, como honra, orgulho e glória, e as manifestações da alma, como as paixões, a dor pelas perdas e a consciência da finitude do ser humano, fizeram da “Ilíada” uma lenda universal.
Rei Arthur
Há muitas dúvidas sobre a real existência do Rei Arthur, mas alguns historiadores e arqueólogos já consideram que um heróico guerreiro com tais características pode ter existido entre os séculos 5 e 7. Entre outras possibilidades, ele poderia ter sido um rei galês ou um militar romano. Sua proeza teria sido liderar os habitantes da atual Grã-Bretanha contra invasores.
Desde então, começou-se a construir a lenda sobre um rei dos bretões, líder de virtuosos cavaleiros que se reuniam em torno de uma mesa redonda. O primeiro registro histórico sobre Arthur aparece na obra “Historia Britonnum”, escrita por Nennius em 796. Ele teria conduzido seu povo à liberdade após vencer doze batalhas contra cruéis invasores.
Os folclores galês e celta forneceram à lenda do rei Arthur elementos místicos e históricos. Entre eles, a figura do mago Merlin, da Dama do Lago, da espada Excalibur e da ilha mágica de Avalon. Ao longo dos séculos com a crescente influência do Cristianismo a lenda se fundiu com a da busca do Santo Graal, sendo Arthur e seus cavaleiros incumbidos de buscarem o cálice sagrado. Essas inúmeras influências fizeram com que a história ganhasse uma série de variações.
A popularidade da narrativa fora da Grã-Bretanha se deu a partir da publicação da obra “Historia Regum Britanniae”, escrita por Geoffrey de Monmouth no século 12. Desde então, foram incorporados temas como o relacionamento adúltero entre Lancelot, um dos cavaleiros da Távola Redonda, e Guinevere, a esposa de Arthur, ou o fato de que ele precisou retirar Excalibur de uma rocha para provar ser o herdeiro do trono.
Nessa lenda que narra a união do povo que formaria a Grã-Bretanha, a luta do bem contra o mal e o poder do amor são os principais temas, e são também o motivo dela continuar a gerar inúmeras versões literárias e cinematográficas. Clique aqui e leia mais sobre a lenda do Rei Arthur.
Fausto
A trajetória de um homem que viveu onde hoje é a Alemanha no século 16 está na origem de uma das mais famosas e influentes lendas de todos os tempos. Segundo os testemunhos de vários contemporâneos a ele, um homem conhecido como Fausto era um viajante charlatão que se aproveitou da credulidade e da superstição de pessoas ignorantes. Suas habilidades em ganhar dinheiro, suas ligações com magia negra, sodomia e adivinhações e sua morte repentina e violenta foram relatados como fruto de seu pacto com o Diabo.
A lenda de Fausto não foi a primeira a narrar sobre os acordos entre homens e Satanás, em que trocavam suas almas por poder, riqueza e conhecimento. Desde os primeiros tempos do Cristianismo esses pactos eram comumente relatados na cultura popular. Mas foi a história de Fausto a que acabou se consolidando como a mais famosa lenda sobre o assunto. Em 1587, foi publicada a primeira versão literária na qual Johan Fausten, um ex-estudioso de teologia ávido por ter todas as coisas no céu e na Terra, fez um pacto com Mefistófeles. Além disso, uma versão teatral da lenda, escrita no começo do século 17 pelo dramaturgo inglês Christopher Marlowe, ajudou a tornar cada vez mais popular pela Europa a história de Fausto.
Mas a versão definitiva viria com a obra-prima escrita entre 1808 e 1832 pelo autor alemão Johann Wolfgang von Goethe. O Fausto de Goethe mistura filosofia, teologia, mitologia, ciência, economia para transformar a lenda numa metáfora do Iluminismo e da cultura ocidental. A lenda de Fausto continuou a ganhar versões na literatura, dramaturgia, música erudita, ópera e cinema. E pensar que tudo começou com a versão popular da vida de um obscuro homem ambicioso de má reputação, que foi contemporâneo de gente famosa como Nostradamus, Paracelso e Martinho Lutero.
Drácula
A lenda de criaturas imortais que deixam seus sepulcros durante a noite na forma de morcegos para sugar o sangue dos humanos se tornou popular durante o século 18 no Reino da Hungria, que incluía a Transilvânia. A narrativa ganharia o mundo no final do século 19 com a versão literária feita pelo irlandês Bram Stoker. Em “Drácula”, Stoker deu formas góticas ao conto folclórico que assombrava a população eslava.
Os eslavos acreditavam que os mortos que não se decompunham na sepultura tornavam-se vampiros. Para evitar que isso acontecesse eram feitos rituais pagãos em que uma estaca era fincada na sepultura de forma a atravessar o coração do morto ou o corpo era exumado e queimado. O folclore da região sobre vampiros se misturou com as narrativas sobre a vida de um personagem histórico para alimentar as lendas.
No século 15, o príncipe Vlad III Drácula, o Empalador, reinou onde hoje é a Romênia cometendo atrocidades, como tortura, empalar e beber o sangue de seus inimigos. Drácula lutou contra a nobreza e o domínio do Império Otomano na região e por isso tornou-se um herói popular no folclore da Transilvânia. Talvez influenciado pela história do príncipe e muito pelas lendas locais sobre vampiros, Stoker construiu uma narrativa que se tornaria um dos pontos altos do estilo gótico no Romantismo.
Desde então, as histórias sobre vampiros espalharam-se pelo mundo e a lenda continua a ganhar diferentes versões na literatura, nos quadrinhos, no cinema, nas séries televisivas. Mas em todas elas há sempre elementos dos contos populares eslavos, como na forma de se matar um vampiro ou na sua aparência pálida e com dentes protuberantes. Na lenda original, viravam vampiros após a morte os criminosos, hereges e suicidas. Seus pecados em vida os condenavam a serem almas atormentadas pela eternidade.
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ResponderExcluireu adicionaria a essas lendas a dodom quixote ...
ResponderExcluirrsrsrsrsrs
e a lenda que jesus existiu???
ResponderExcluirEita!!! temos um Ateu entre nós. Meus olhos sangram. HEHEHEHE
ResponderExcluirnao fala em jesus senao aparece trocentos cristaos pra reclamar,por que tu pode ter tua opiniao desde que nao seja contra a deles .hehehe
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