segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

As 7 grandes histórias da espionagem

Ronald Pelton estava de férias em Viena quando foi até a embaixada da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) na capital austríaca. Lá, ofereceu relatar para a KGB, o serviço de espionagem soviético, alguns dos importantes segredos militares que sabia sobre os Estados Unidos. Pelton havia trabalhado para a Força Aérea e a Agência de Segurança Nacional e tinha uma memória fotográfica. Graças a ela e em troca de uma quantidade de dinheiro que resolvesse seus problemas financeiros revelou importantes planos norte-americanos de monitoramento militar da URSS. Pelton acabou delatado por um desertor soviético e foi preso em novembro de 1985. Numa semana em que o FBI, a polícia federal norte-americana, prendeu mais dois agentes duplos que espionavam segredos militares, tecnológicos e geopolíticos americanos para a China e também para Israel, um dos maiores aliados dos EUA. Era uma época em que a Guerra Fria caminhava para o seu final com o desmoronamento do império soviético, mas foi também um dos períodos em que houve uma intensa atividade de espionagem internacional, sendo os anos 80 considerado a "década da espionagem" com dezenas de casos descobertos e vários espiões presos ou mortos. O caso Pelton levou ao cancelamento de importantes programas militares, e, assim como ele, ocorreram dezenas de casos de espionagem, que apesar de não terem sido conduzidos pelos espiões mais famosos de todos os tempos, tornaram-se importantes pelos estragos militares, políticos ou financeiros que causaram. Nas próximas páginas, conheça a história de sete dos mais importantes casos da espionagem internacional. O caso Pelton levou ao cancelamento de importantes programas militares, e, assim como ele, ocorreram dezenas de casos de espionagem, que apesar de não terem sido conduzidos pelos espiões mais famosos de todos os tempos, tornaram-se importantes pelos estragos militares, políticos ou financeiros que causaram.

1. Segredos do F-14

Durante a Guerra Fria, a União Soviética não mediu esforços para roubar segredos militares norte-americanos. Um dos principais alvos da espionagem soviética era a indústria militar dos Estados Unidos e, nela, um dos segredos mais cobiçados era o projeto do caça militar F-14. Um dos casos mais famosos sobre a espionagem em torno do avião aconteceu no começo dos anos 70. Um engenheiro da Grumman Aerospace Corporation, fabricante do F-14, conheceu por acaso o russo que dizia chamar-se Sergey Viktorovich Petrov, e iniciaram uma amizade. Petrov contou que trabalhava na ONU e estava preparando sua tese de doutorado em engenharia. Por isso, era uma incrível "coincidência" ele ter conhecido um engenheiro da Grumman, que poderia lhe dar algumas informações sobre a engenharia do F-14. O russo pagaria por elas e estava particularmente interessado no projeto das asas do avião. Após alguns jantares e a insistência de Petrov, o engenheiro desconfiou e relatou o caso aos seus chefes que acionaram o FBI. Os encontros passaram então a ser monitorados pelos agentes federais. Petrov começou a aumentar as ofertas em dinheiro para obter dados confidenciais do projeto do avião. A maior parte dos encontros acontecia em restaurantes próximos a linha férrea que levava a Long Island, onde ficava a sede da Grumman. Petrov chegou a sugerir ao engenheiro que ele tentasse uma nova posição na empresa onde pudesse ter acesso a dados mais importantes sobre o avião, e que isso renderia uma compensação financeira a ele. Após passar "férias" na União Soviética, Petrov marcou uma nova série de encontros. Num deles providenciou uma câmera fotográfica especial para que o engenheiro fotografasse os projetos. Os encontros entre os dois duraram cerca de dois anos. Nesse tempo, Petrov instruiu o engenheiro sobre como realizar suas atividades de espionagem industrial e como seria a senha para ele reconhecer o futuro substituto do russo. No último encontro entre os dois, o engenheiro prometeu levar o que Petrov tanto queria. Após o jantar e pegar o envelope com os segredos do F-14, Petrov caminhava calmamente quando foi preso por agentes do FBI. Apesar de julgado e condenado, o espião foi solto e retornou para a União Soviética, por interferência da Casa Branca.

2. Armadilha para nazistas

Na véspera da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial uma ação de contra-espionagem resultou na prisão de 33 espiões nazistas que atuavam em solo norte-americano. A rede de espionagem foi desmascarada graças à atuação de um ex-soldado alemão que lutou na Primeira Guerra Mundial. William Sebold atuou como agente duplo junto aos nazistas e foi a principal peça numa arapuca armada para capturar os espiões alemães que agiam nos EUA. Sebold deixou a Alemanha em 1921 e foi trabalhar na indústria aeronáutica nos Estados Unidos. Em 1936, ele obteve a cidadania americana e três anos depois, alguns meses antes do início da Segunda Guerra Mundial, retornou ao país natal para visitar sua mãe. Em sua estadia na Alemanha, ele foi procurado pela Gestapo, a polícia secreta nazista, que ameaçou matar seus familiares caso ele não concordasse em ser um espião. Sebold aceitou e passou por um treinamento para transmitir informações codificadas, mas nesse período procurou as autoridades americanas. Ao retornar aos Estados Unidos, sob o nome falso de Harry Sawyer, ele começou a atuar como agente duplo. Sebold manteve contato com a vasta rede de espiões em solo americano e com isso permitiu que o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, descobrisse quem eram e como eles operavam, inclusive localizando uma estação de rádio de ondas curtas fora do país que transmitia segredos codificados para a Alemanha. A armadilha e o desempenho de Sebold foram tão eficazes que permitiram evitar os atentados planejados pelos nazistas contra as indústrias americanas, passar informações falsas aos nazistas e desmantelar a mais famosa rede de espionagem que operou em território americano, inclusive com a prisão de seu líder, o sul-africano Frederick Joubert Duquesne.

3. A vendedora de bonecas

No começo dos anos 40, a americana Velvalle Malvena Dickinson e seu marido abriram uma loja de bonecas na Madison Avenue, uma das mais requintadas de Nova York. Seus principais clientes eram abonados colecionadores de antiguidades e objetos importados, além de gente influente. As bonecas de Velvalle, no entanto, não eram apenas uma forma dela ganhar dinheiro, mas parte de um dos mais inusitados casos de espionagem durante a Segunda Guerra Mundial. Velvalle usava as cartas sobre a negociação de bonecas para transmitir mensagens codificadas que revelavam informações sobre a defesa militar dos Estados Unidos para os japoneses. Nelas, pedidos que manifestavam interesse em "sete bonecas chinesas", por exemplo, significavam que sete navios de guerra da Marinha americana estavam aportados na baía de San Francisco para reparos. Velvalle colocava nomes de clientes como remetentes e postava as cartas de diferentes localidades, mas sempre com destino a Buenos Aires. Antes disso, durante os anos 30, quando ainda morava em San Francisco, Velvalle associou-se à Sociedade Americana Japonesa, participou de várias cerimônias no Consulado Japonês e conheceu importantes membros do governo e da Marinha japonesa. Mesmo após sua mudança para Nova York, ela continuou a frequentar as instituições japonesas na cidade. Pelos serviços de espionar a Marinha do próprio país, Velvalle recebeu US$ 25 mil do governo japonês em notas de US$ 100 entregues em sua loja na Madison Avenue. Após a interceptação de uma das cartas e do trabalho de investigação do FBI, Velvalle foi presa e condenada a dez anos de prisão.

4. A moeda oca

Um plano de espionagem internacional leva anos de maturação e muito tempo para render frutos. A paciência é a alma desse negócio. Reyno Hayhanen fez uma bem-sucedida carreira nos serviços secretos soviéticos nos anos 40. Sua especialidade era a Finlândia e seus serviços foram muito úteis durante a guerra entre a União Soviética e o país nórdico. Em 1948, ele recebeu uma nova missão. Hayhanen assumiria a identidade de Eugene Nokolai Maki, um trabalhador americano que havia emigrado para a Finlândia. Para não levantar qualquer suspeita, ele morou durante três anos naquele país sem desenvolver nenhuma atividade de espionagem. Nem mesmo a mulher com quem veio a se casar nesse período desconfiou que Eugene Nocolai Maki era, na verdade, Reyno Hayhanen. Em 1953, o casal mudou-se para Nova York, nos Estados Unidos. O objetivo era que Hayhanen integrasse uma rede de espionagem soviética em solo americano e buscasse informações sobre os programas nuclear e de desenvolvimento de submarinos. Durante os anos seguintes, ele participou de várias missões de espionagem contatando vários agentes da KGB e utilizando como meio de transporte para as mensagens codificadas uma inovação da espionagem soviética na época: pequenos objetos, como moedas e pregos, ocos. Mas, ao que parece, em solo americano Hayhanen não foi tão competente como nas missões anteriores. Os problemas com o alcoolismo e um descuido que o levou a comprar um jornal com uma das moedas que continham mensagens cifradas começaram a minar sua carreira e o plano de espionagem soviético. Em 1957, ele foi chamado de volta a Moscou, mas antes de retornar deu uma paradinha em Paris e desertou. Hayhanen colaborou com as investigações do FBI que culminaram na prisão de vários espiões soviéticos, inclusive de Rudolf Ivanovich Abel, o chefe das operações da KGB nos Estados Unidos, México, Brasil e Argentina. Hayhanen morreu algum tempo depois em um acidente de carro, que muitos atribuíram à KGB.

5. A conspiração Echelon

Todos os envolvidos negam oficialmente sua existência, mas quando muito dinheiro ou ameaças terroristas estão em jogo, ela sempre dá as caras. Desde os anos 50, desconfia-se que a Agência Nacional de Segurança e os serviços secretos dos Estados Unidos utilizam redes de satélites militares e de computadores para interceptar comunicações feitas por telefone, fax ou correios eletrônicos em qualquer parte do planeta. Essa imensa operação de espionagem mundial baseada em alta tecnologia recebeu o nome de Echelon. Seu jeito de espionar parece ficção científica, com a capacidade de ter acesso ao conteúdo de qualquer telefonema internacional, fax, e-mail ou rádio transmissão. Baseado na identificação de palavras-chave, reconhecimento de voz ou padrões de mensagens, o sistema Echelon faz varreduras que procuram por evidências de planos que ameacem a segurança nacional norte-americana e de seus aliados. Apesar das negativas dos governos norte-americano e britânico, principalmente por conta da violação dos direitos constitucionais de seus cidadãos que a rede representaria, as suspeitas da existência da Echelon ganharam força quando em 1999 o então chefe dos serviços de inteligência australiano, Bill Blick, confirmou para a BBC que a Austrália usa as informações obtidas com a Echelon. Quase na mesma época, uma comissão de investigações do Parlamento Europeu concluiu que a CIA e a Agência de Segurança Nacional teriam recorrido a Echelon para espionar a licitação brasileira da instalação do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM). Como resultado da espionagem, o grupo francês Thomson, que seria o provável vencedor, acabou derrotado pela empresa americana Raytheon, num contrato inicial de US$ 1,3 bilhão.

6. O fim dos Mosquitos

Uma das armas mais bem-sucedidas na Segunda Guerra Mundial foram os bombardeios britânicos Mosquitos. Eles eram produzidos pela indústria de aeronaves De Havilland e um dos sonhos nazistas era encontrar uma forma de destruir a fábrica que ficava em Hertfordshire. O sonho parecia que viraria realidade quando o britânico Eddie Chapman, um ex-detento condenado por roubo e especialista em explosivos, ofereceu-se para trabalhar para os nazistas. O Abwehr, serviço de espionagem do exército alemão, viu em Chapman o espião que os nazistas precisavam. Além da sua declarada hostilidade contra o governo inglês e suas ligações com o submundo criminoso, seus conhecimentos sobre explosivos o fariam um sabotador ideal. Após ser treinado durante um ano na França ocupada, ele foi lançado de paraquedas no solo britânico no fim de 1942. Na Inglaterra, a primeira coisa que Chapman fez foi procurar a polícia e o MI5, o serviço secreto britânico, e relatar o plano nazista. A partir daí, o ex-bandido tornou-se um dos mais importantes agentes duplos do serviço secreto britânico durante a Segunda Guerra. Seu codinome era agente Zigzag.
MI5 preparou uma das maiores simulações já feitas em uma guerra para parecer que Chapman tinha realmente levado a cabo sua missão de sabotar a fábrica dos Mosquitos. Uma imensa camuflagem feita de madeira e papel maché cobriu a De Havilland para parecer que bombas haviam provocado danos irreparáveis na estrutura de produção dos aviões. Além disso, informações foram plantadas no jornal Daily Express que noticiou com muito alarde o atentado. Imediatamente, Chapman entrou em contato com o Abwehr para informar o sucesso da missão. Chamado a Alemanha, ele foi condecorado com a mais alta honraria do país, a Cruz de Ferro. Em território alemão e reconhecido como herói pelos nazistas, ele pôde levar adiante as tarefas de espionagem para o MI5. Chapman nunca foi descoberto pelos nazistas e retornou a Grã-Bretanha em 1944.

7. Todos os segredos da OTAN

Nos tempos da Guerra Fria, obter os planos de defesa do inimigo, a localização de suas armas nucleares e seus sistemas militares de comunicação eram alguns dos principais objetivos dos serviços de espionagem internacionais. No fim dos anos 80, um sargento do exército dos Estados Unidos conseguiu fazer isso sozinho num dos casos de espionagem que mais danos causou à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Roderick James Ramsay trabalhava desde 1983 na base americana na Alemanha Ocidental. Foi lá que conheceu o sargento Clyde Lee Conrad que o recrutou para obter segredos militares que seriam passados aos países do Pacto de Varsóvia, organização militar que se opunha à OTAN. Equipado com uma câmera fotográfica e depois com uma de vídeo, Ramsay conseguiu ter acesso e registrar imagens de documentos ultrassecretos que nas mãos do inimigo, em caso de guerra, levariam ao colapso da aliança militar liderada pelos Estados Unidos. Poliglota, com uma capacidade de memorizar dados, fatos e detalhes de centenas de documentos e extremamente inteligente, Ramsay era apenas um datilógrafo na 8.ª Divisão de Infantaria do exército americano na Alemanha Ocidental quando vendeu esses segredos de estado por US$ 20 mil. Até chegar a Ramsay, o FBI teve de conduzir a mais longa investigação de espionagem de sua história. Quando foi preso, o ex-sargento estava desempregado e morando com a mãe. Ele concordou em colaborar com as investigações e foi condenado a 36 anos de prisão em 1992.

Um comentário:

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